Saturday, August 29, 2009

balões


ar.cansado.

respirar.

cansada de tentar inspirar.

os meus olhos não aguentam.

como que uma culpa.

uma doença no ar.

um vírus

febril

com sintomas de desgaste.
queria criatividade.

a minha inspiração está presa

numa letra.

anda para cá e para lá
sem saber se me ajuda

a pensar

ou a escrever.

que se soltem os balões

para ter forças para criar.

Thursday, August 27, 2009

Simão de Mello Breyner

Parabéns!
O meu Simão faz 4 anos!




Se houver, como dizem que há, um Céu dos Cães, é lá que quero ter assento, a ver a luz a minguar no horizonte, com a sua palidez de crepúsculo num retrato da infância. Hei-de então bater à porta e pedir para entrar, e sei que eles virão, contentes e leves, receber-me como se o tempo tivesse ficado quieto nos relógios e houvesse apenas lugar para a ternura, carícia lenta a afagar o pêlo molhado pela chuva. Então poderemos voltar a falar de felicidade e de mim não me importarei que digam: teve vida de cão, por amor aos cães.

Amados Cães-José Jorge Letria


Tuesday, August 25, 2009

sinto me


de que adianta sonhar, se os sonhos não são reais?
hoje
só me apetece fugir!
quero esvaziar me num precipício
qualquer
com orgulho.
de que me adianta o resto do mundo?
se estou dentro de uma nuvem
onde não chove felicidade
mas reina uma tristeza imensa,
tão imensa.

Thursday, August 20, 2009

O canito não corta a barba_Clara Ferreira Alves


Na aldeia faziam-se ao mar. Quem não gostava cavava a terra. Depois chegaram os "espanhóis".
Todos os dias passo por ele, logo de manhãzinha, quando vou comprar o pão e beber a bica. Está parado numa esquina caiada. A olhar o fio do horizonte. Às vezes tem uma camisa de flanela de xadrez toda abotoada e outras vezes tem um blusão por cima, pardo do uso. O blusão deve ser para os dias em que a nortada quase lhe arranca da cabeça o boné. Pisca os olhos e mexe-se para fazer uma festa no cão: o canito não corta a barba! Um único dia mudou a frase: o canito gosta de água? Eu não sabia se era de beber ou do mar e disse que a do mar o canito não gostava muito. Não gosta de mar? Não nada?, perguntou ele. Nadar, nadava; não era o desporto favorito e fugia da água a sete pés. O velhote deu uma gargalhada e disse que tinha tido uns cães e que todos eles gostavam de água, mais a das barragens e dos rios do que a do mar. Nunca tínhamos tido uma conversa tão longa.
Acompanhou-me ao café da aldeia e pediu o costume. Um copinho de aguardente. Eram nove e meia. Um pouco cedo para aguardente, disse eu. Ainda pensei dizer "álcool" mas a palavra ficava sozinha no cenário. Esta gente diz tinto, branco, bagaço, medronho. As coisas pelos nomes. Atrás do balcão uma mulher enerva-se a servir torradas, meias-de-leite e sumos de laranja aos "espanhóis". Os espanhóis levantam-se cedo e pedem muitas tostas mistas em pão de fatia, com café com leite. Desorientam-na. Querem tudo ao mesmo tempo. Às vezes os "espanhóis" são ingleses, alemães, franceses. Quando peço uma fatia de torta de alfarroba ela aconselha-me a esperar pela torta fresca que virá à tarde e a deixar aquela para os "espanhóis".
O velhote, que tem uma idade entre 60 e 80 anos, a pele curtida pelo sol e umas mãos peludas e enormes que agarram o copo com delicadeza, tira um maço de cigarros do bolso da camisa de xadrez. Pall Mall. É estranho ver o nome Pall Mall no cenário rústico, como se os cigarros pertencessem a outro planeta, onde as pessoas vestem bem e falam "estrangeiro". O café tem uma máquina de venda de cigarros; os "espanhóis" desesperados pelo primeiro cigarro batem no metal quando ela não retribui o pedido. Às vezes a máquina fica sem cigarros e "os espanhóis" olham-na com angústia, coçando os cabelos crespos do mar.
Pergunto ao velhote se ele bebe todas as manhãs um copinho daqueles e se, não bebendo, fica mal disposto como os "espanhóis" que lutam com a máquina e a insultam por estar vazia. Dependência, diriam os peritos do álcool e do fumo. Dependência tóxica. Às vezes bebe uma cerveja. Nos dias de calor. Para matar a sede. A aguardente para matar o bicho. É do tempo em que se calava o choro das crianças de mama com um pano embebido em vinho e açúcar para elas ficarem sossegadinhas. Puxo-lhe pela memória. Como era a aldeia? Era uma aldeia pobre com meia dúzia de casas. Uma escola primária e uma igreja construídas pelo Salazar. Faziam-se ao mar e quem não gostava de mar ia embora ou cavava a terra; a terra ali nunca deu grande coisa por causa das areias e dos ventos. Quando começaram a construir as estradas muitos foram espalhar alcatrão, mais certo do que aguentar ondas e tempestades.
O mar é traiçoeiro, diz o velhote piscando mais os olhos, como se a faísca de mar ao fundo da aldeia o encandeasse. Mais traiçoeiro do que uma mulher. Ele teve uma boa mulher, muitos anos, e depois ficou viúvo. Ninguém para o amortalhar. Há muitos viúvos na aldeia, nem sabe porquê. Falam uns com os outros, não se sabe de quê. E teve dois rapazes, um foi para a Alemanha e o outro foi embora e anda nos barcos, lá por Espanha. Espanha onde? No Norte, lá para cima, para os gelos. Nos barcos de pesca que congelam o peixe ainda ele salta na rede. Vigo, a Biscaia? Longe, não muito certo do que representam estes nomes. Nos gelos. Finisterra, penso eu. A boa pesca era a do atum, aí é que se ganhava dinheiro. Muito atum havia pelos Algarves. Famílias inteiras a viver do atum. Depois vieram as estradas e os hotéis e agora toda a gente anda a vender as casas por bom dinheiro. Ele já quis vender a dele, as sobrinhas não deixaram. Uma casita velha. As sobrinhas têm é medo de que ele fique sem casa. Está rijo e são. A malta hoje só vê televisão, passam o tempo sentados. E muita droga.
Ele trabalhou toda a vida. Dá um golito. O tabaquinho é como se fosse família. Faz companhia. Bate outro cigarro e faz uma festa no cão. Malta fraca, comem torradas. Andam aí com as tábuas todos empoleirados e não sabem nada de mar. O mar é traiçoeiro. Surf, uma palavra tão deslocada como álcool. No Inverno, o mar nem vê-lo. Se o vissem todo atiçado fugiam a sete pés com a tábua. Ele nunca aprendeu a nadar. O canito é que sabe, com aquela barba. Fugir dele. Dá um estalo com a língua depois de escorropichar o copo.
[Expresso-08.08.2009]

Sunday, August 16, 2009

improviso.
vago é
vago.

mas

o que é poesia?
uma________________ pode ser o mar
ou chão.

se não for chão
é um quase algo
onde se encaminha.

o importante
é não deixar que as palavras
envelheçam dentro de mim
.

Saturday, August 08, 2009


Assim que eu abrir de novo os meus olhos,


Meus pensamentos já não serão mais livres,


E minha alma, vencida,


Errará novamente pelas estradas abandonadas.


Neste instante, porém,


Tudo me aproxima de mim mesmo.


Há uma solidão imensa aqui dentro.


Há janelas abertas recebendo a noite.


Nunca me pertenci tanto como neste momento.


Nunca te pertenci tanto como neste momento.


um dia muito triste na vida de homem alegre...Portugal de luto



Thursday, August 06, 2009

são dias menos felizes


há dias que nada acontece, ou que acontece tudo.são neles que encontro as respostas [e mais perguntas]para os meus desesperados medos.
hoje acordei assim.com uma louca vontade de me fazer arder como uma vela. queimar me com um café ou com nicotina .uma passa no cigarro, que desceria a queimar a garganta, sairia numa baforada redonda pelo nariz e explodiria com gozo quando o calor forte me queimasse em mim.
são demasiadas notícias más por estes dias.
vivo por vício rabiscando espaços vazios.

Monday, August 03, 2009

coisas de que gosto

uma musica






um poema

No lugar dos palácios desertos e em ruínas
À beira do mar,
Leiamos, sorrindo, os segredos das sinais
De quem sabe amar.
Qualquer que ele seja, o destino daqueles
Que o amor levou
Para a sombra, ou na luz se fez a sombra deles,
Qualquer fosse o vôo.
Por certo eles foram mais reais e felizes.

Fernando Pessoa

um filme






uma frase

O presente é a grande folha onde escrevemos.

José Luís Peixoto



um momento