aqueles que têm nome e nos telefonam
um dia emagrecem - partem
deixam-nos dobrados ao abandono
no interior duma dor inútil muda
e voraz
arquivamos o amor no abismo do tempo
e para lá da pele negra do desgosto
pressentimos vivo
o passageiro ardente das areias - o viajante
que irradia um cheiro a violetas nocturnas
acendemos então uma labareda nos dedos
acordamos trémulos confusos - a mão queimada
junto ao coração
e mais nada se move na centrifugação
dos segundos - tudo nos falta
nem a vida nem o que dela resta nos consola
a ausência fulgura na aurora das manhãs
e com o rosto ainda sujo de sono ouvimos
o rumor do corpo a encher-se de mágoa
assim guardamos as nuvens breves os gestos
os invernos o repouso a sonolência
o vento
arrastando para longe as imagens difusas
daqueles que amámos e não voltaram
a telefonar.
um dia emagrecem - partem
deixam-nos dobrados ao abandono
no interior duma dor inútil muda
e voraz
arquivamos o amor no abismo do tempo
e para lá da pele negra do desgosto
pressentimos vivo
o passageiro ardente das areias - o viajante
que irradia um cheiro a violetas nocturnas
acendemos então uma labareda nos dedos
acordamos trémulos confusos - a mão queimada
junto ao coração
e mais nada se move na centrifugação
dos segundos - tudo nos falta
nem a vida nem o que dela resta nos consola
a ausência fulgura na aurora das manhãs
e com o rosto ainda sujo de sono ouvimos
o rumor do corpo a encher-se de mágoa
assim guardamos as nuvens breves os gestos
os invernos o repouso a sonolência
o vento
arrastando para longe as imagens difusas
daqueles que amámos e não voltaram
a telefonar.
35 comments:
Hum, as ausências prolongadas custam imenso.
Adorei o poema. Lindo e forte.
Ai que triste... :(
De um homem de Sines, não se podia esperar outra coisa, que um relato fiel da sida.
Al berto o escreveu assim e é bom reler.
kiss per té
Um dos meus poetas preferidos
"hoje vivo quase sempre sozinho
paciência
os momentos de infelicidade estão esquecidos
uma pétala de luz percorre as linhas da mão
o rosto é aquele que sonhei
e não o que a noite dos espelhos tenta dar-me"
Bjs. Boa semana.
Não conhecia o poema mas... muito bonito....
e sim.....
as saudades de quem está longe por vezes são dificeis de ultrapassar... aqui nem o tempo melhora essa distância....
Jinhos
Que poema tão lindo... amei..."nem a vida nem o que resta dela nos consola" bem verdade...
tão bonito. tão forte! gostei muito do poema :)
O poema é lindo, lindo!
Desculpa nao ter falado muito contigo da ultima vez...
Como estás?
Muitas vezes nos esquecemos que é muito ténue a linha da nossa existência! Porém, ao contrário do amor, a dor não fica arquivada nos arquivos do tempo!...
Um beijo...
triste tal como a ausencia
jocas maradas.sempre
Olá vela!
O post é sim Triste, mas nem só de Alegrias é feita a vida.
Faz tudo parte, nada como saber admiti-lo.
Já li alguns poemas deste Amigo, aqui da blogosfera, que já partiu...
Assim se perdem pessoas e vivências, mas guardam-se recordações.
Um Beijo Grande.
aqueles que não voltaram a telefonar fazem parte das fotografias dos meus mortos. sei que parece macabro mas é assim
Cara Velinha,
O corpo é só o transporte do espirito...
Um abraço,
António Serra
quem sabe, velinhas
se lá do outro lado
a sua beleza poética
será ainda mais bela
do que esta...
aqui ficam saudades,
lá, talvez morem as verdades...
guardei o "cheiro a violetas nocturnas"...
muito lindo o poema
avec le temps...lindo...
um beijinho
Gostei do que li... Bastante mesmo!
E partilho esse mesmo sentimento... não é possível fazer de todo o luto a um amor que permanece tenuemente no coração...
Beijinho *
que lindo...
não conhecia..
tenho muito medo dessas dores que fala o poema e que eu nunca senti, muito muito medo
Já dizia Maria Rita:
"Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar"
Beijinhos!
Al Berto merecia muito mais. Muito mais.
Poesia é mesmo mais com a g e a Bethânia também.
Bjs
a
Há imagens difusas que se prendem sem dó na nossa memória.
g
Se senti... tanto que as lágrimas correm e marcam a mesa, pousando mais leves. porque as foste segurar com esse abraço.
Obrigada
Que lindo, Al Berto... e triste a imagem.
KiSS
"Al Berto merecia muito mais. Muito mais."
Merecia muito mais do que Portugal faz por ele.
al berto é um poeta injustamente pouco divulgado...
Elogios não farei, basta conhecer um pouquinho da obra!
Em tempos fiz este video para publicar no blog, mesmo a calhar:
http://www.youtube.com/watch?v=s9c6u7lJwYY&feature=channel_page
1 beijo
seja o que for... o que possa dizer, escrever... apenas estraga e esmaga a força destas palavras.
bj
Olá Velinhas!
Não, não morri (ainda)!
A minha ausência deve-se ao facto de ter pouco tempo, pouco para contar e também andar nos últimos tempos por baixo em termos emocionais. Nem o brilho do sol traz alegria...
Beijoca grande e obrigada por te preocupares.
Também gosto muito da escrita dele.
Beijos
- "quem não nos sente ou não nos telefona...é porque morreu!"
(deixaste no meu "Baila...")
e aqui voltei:
- há quem morra, estando vivo dentro dos nossos corações...
há quem viva, estando morto
só fazendo parte de ilusões...
a tua dor é muita, velinhas
sente-se...
deixo-te um sopro de brisa fresquinha, uma asa de brancura,
toda a minha ternura...e agarra a chama da vela, e faz um bailado de luz com ela!
quando os nossos dias apenas vão...as palavras não têm qualquer condão...
por isso hoje só deixo mais um beijinho com todo o meu carinho!
Não queiras!
A morte rouba a vida. Dessa verdade ninguém se livra.
Belo e sentido poema!
Beijo
Carrego comigo as marcas do dia em que soube que nunca mais me poderia ligar, o dia em que tudo o que o telefone me trouxe foi a notícia de que não mais me voltaria a ligar. Levou-o a doença maldita, cobarde, silenciosa... o cancro. Era amigo, irmão, confidente, pai...
Ligo-lhe eu, agora, só eu... em momentos em que mais ninguém vê as lágrimas que ainda hoje derramo pela dor da sua perda; ligo-lhe eu, ligo-lhe eu...
Fica bem
Velinha,
Não precisas de agradecimentos mas, mesmo assim, OBRIGADA por nos (re)trazeres o Al Berto. Enquanto houver alguém como tu, acredita que ele não morrerá.
Abraço.
Sempre merecedor de ser lembrado, ele que traduziu toda a angústia de viver. **
O Al Berto é um SENHOR!
Palavras belas, para uma situação tão triste...
Beijo
um dos meus ESCRITORES de ELEIÇÃO.
não sei se começaste a ler o meu blog, ainda com o avatar com a capa do livro "O Medo"
beijo terno
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