nesta noite de inverno, sob as cobertas da minha cama confortável e na penumbra do quarto azul aconchegante, os meus olhos são como vidros que estão embaçados, uma espécie de neblina. regressa o vento e a chuva.mas volta também o vento da consciência enfurecida, trazido pela chuva das lágrimas. uma raiva de sangue. que eu tinha certeza que voltaria. e voltou.
este tempo traz consigo um sorriso retorcido e desprezível.um chama de loucura. um corpo endurecido de carnes, músculos e ossos. inflige a pele viçosa sem perdão. em mim, o seu lado mais assustador. o inverno não é humano, por muito que o tente. nunca o espero, nem finjo que tenho saudades deste tempo para mim assustador. não quero ouvir o vento nos meus ouvidos soprar a minha vida perdida.triturar os meus ouvidos com o seus gritos retorcidos dos galhos a cair. não tenho sede de beber a água da chuva. a existência da chuva nojenta, suja o que há de mais limpo em mim. não necessito de noites frias. por muito que goste de chá quente e de mantas felpudas. não quero a cara tapada por um cachecol. e ter deixado de olhar o céu pela insistência de andar sempre de chapéu de chuva. o inverno descortina como oferta as minhas tristes miudezas. desfia um cordão de desgraças velhas. tudo o que eu evito, ou prefiro não saber, ele manda me à cara. a minha alma recebe socos abrindo as portas do que há de mais particular dentro de mim. o eu mais secreto. nestas noites de inverno, quando as árvores dançam lá fora, o pior de mim bate à porta para me visitar.
com tudo isto, sinto um enorme mal-estar. o meu corpo já não se sente em mim mesma. eu e o inverno, definitivamente, não se entendem. aqui estou perante o velho dualismo. algo sobra no meu corpo.o frio invisível, impalpável. estou desconfortável. percebo o ponto de vista do meu corpo. a chuva dá me uma imensa sensação de desamparo, uma necessidade enorme de me fechar em mim. não suporto o inverno.nem aquele em que jazo. o corpo, sente-se fracassar. a minha alma está indeterminada e espessa, perde a consistência da memória e da continuidade. deseja morrer. ou matar o inverno.mas não sabe por onde começar.
com tudo isto, sinto um enorme mal-estar. o meu corpo já não se sente em mim mesma. eu e o inverno, definitivamente, não se entendem. aqui estou perante o velho dualismo. algo sobra no meu corpo.o frio invisível, impalpável. estou desconfortável. percebo o ponto de vista do meu corpo. a chuva dá me uma imensa sensação de desamparo, uma necessidade enorme de me fechar em mim. não suporto o inverno.nem aquele em que jazo. o corpo, sente-se fracassar. a minha alma está indeterminada e espessa, perde a consistência da memória e da continuidade. deseja morrer. ou matar o inverno.mas não sabe por onde começar.
16 comments:
está tao lindo tao lindo tao lindo, este texto
mas preferia tanto tanto tanto, que tu nao escrevesses coisas bonitas destas e estivesses, antes, a rir das formas estranhas que as nuvens fazem, a andar a saltitar pleas poças de agua a tentar descobrir as mais fundas.
ou aproveitasses para sonhar sonhos bons no sofá , sob as mantas felpudas, de olhos abertos e coraçao tb....
gosto tanto de ti, e dói-me demais ler-te, as vezes
voltei para:
queres vir a leiria proximo fds??
beijoss
Entendo-te. Mas pensa que um dia destes acordas e vai ser primavera. Com muito sol e flores e o canto dos pássaros.
O que significa que temos de nos encontrar antes, porque o que temos combinado é bem melhor numa tarde/noite mais fria do que quente...
Beijinho
tb odeio o inverno e sinto cada vez mais saudades dos dias ternos de primavera...
ela irá chegar vais ver....
“… deseja morrer. ou matar o inverno. mas não sabe por onde começar.”
Que tal brindares um pouco de sol á tua vida, conseguir retirar do inverno, ou antes do teu inverno, o verão que nele existe. Pois eu sei que ele existe, pelas poucas trocas de palavras que já desfrutámos, pelos risos que te imagino dar, quando ambos rimos de que um ou outro diz, mesmo sem nos ouvirmos, leva-me á certeza de que há verão em ti. Pode estar escondido, por detrás das nuvens, encharcado pela chuva ou gelado pelo frio. Mas existe, e está á espera que tu o descubras, que o seques ou até que o aqueças.
Mas o primeiro passo tem de ser teu, tens de ser tu a tomar a iniciativa!Tens de acreditar!
Eu acredito no teu Verão!
Beijo!
matando o Inverno...suponho :)
bj
teresa
"e ter deixado de olhar o céu pela insistência de andar sempre de chapéu de chuva"
É isso mesmo.Entendo-te perfeitamente.Por isso nem sempre o uso.
Gostei particularmente deste teu desabafo.Sincero e simples, como deve ser tudo o que é bem escrito.Para ser bem entendido.
Beijoca
Já começo a sentir o bichinho de querer o sol, o calor...
Bj*
Deixa-te ir com o rio que as chuvas criaram. ele encontrará a primavera.
Obrigada por um texto tão bom.
beijO
Ora então muito bem vinda ao club.
também dispenso o inverno. faço um esforço muitas das vezes mais forte do que eu, para que ele passe por mim e não em mim.
mas há dias e dias...
há parte disso foi muito bom ler-te.
Peço-te
Não mates o Inverno
nem as belas tempestades
muito menos o uivo dos meus cães
o velho galo que canta quando troveja e a lenha em cabeleiras
aloiradas eo relógio de pêndulo
que só toca quando apago as luzes e acendo o candeiro de petróleo
o silêncio na casa o mar aceso
e depois o desejo das outras
estações de corpo inteiro
em chamas
Bjs
Tantas merdas para matar
e logo te deu para o meu inverno
Não é o Inverno o culpado...
assim e só, ele pode ser amado!
para depois quando chegar a flor
ela sorrir com mais amor...
só assim terás Primavera
eu sei...a falta da luz
e o frio que não seduz...
acende as velas todas em ti
e aquece a lareira com as palavras
que tu deixas tão lindas aqui!
começa por contar...um quase a terminar...
beijinho para ti!
ah...e esqueci de dizer
deixei um comentário no post anterior
mas parece que fugiram no seu querer :(
ou assustaram-se com meu parecer :)
Beijinhos!
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