nesta época queremos Tudo.
as crianças querem brinquedos; os doentes querem saúde; os desempregados querem um trabalho;os solitários, um amor; os endividados, dinheiro; os descrentes, fé; as empresas, resultados; os políticos, poder; os famintos, comida; os cientistas, descobertas; a seca, chuva; o infindável, fim.
todos queremos tanto que não olhamos para o que já temos.
pede se mais, mais e mais.o inconformismo do “você merece”.mas merecer não é ter.
digo isto com toda a convicção porque sei que mereço muita coisa que ainda não tive.
mereço, por exemplo, alguem que goste de mim, mereço mais visitas dos amigos, um seguro mais barato,pagar menos impostos; mereço mais tempo de férias, mais álbuns de fotografias guardando momentos bons; mereço um ar mais puro, mereço ser feliz. e, no entanto, não tenho nada disso.por outro lado, tenho tanta coisa! tenho boa disposição, uma grande garrafeira, bons livros,criatividade, família, um cão muito querido, originalidade, um sofá vermelho, bom gosto e personalidade,uns olhos vivos e bonitos, palavras soltas que escorregam do céu da boca sem que eu perceba, amigos, integridade,sapatos, personalidade, um trabalho, viagens na memória e um carro sem ar-condicionado que me leva para onde eu quero.
tenho, também, os pés no chão. fotografias da infância, lembranças registadas, gosto de gelado na boca.tenho coragem e tenho medo; inteligência e ignorância; perspicácia e lentidão. tenho uma série de antônimos que fazem o meu sinônimo.abrigo uma imensidão dentro de mim, que vira e mexe ... sufocada por um turbilhão de desejos que me melancoliza.
e deve ser por isso que nesta época me pergunto... será que o quero está certo?