Saturday, May 29, 2010

Do céu caiu uma estrela!

George: Que desejo pediste Mary?

Mary: se te contar, pode não se realizar.

George:Diz me o que queres, Mary.Queres a Lua?Basta pedires que eu atiro um laço em volta dela e puxa a para ti..eu dar te ei a Lua, mary.

Mary:Eu aceito.E depois?

George:Depois, podes engoli la, e ela dissolver se á na tua boca.Os raios de luar irradiarão dos teus dedos, pelos fios do teu cabelo....

uma delicia,

o filme e este diálogo!!!!

Wednesday, May 26, 2010

Estou num dia em que me pesa, como uma entrada no cárcere, a monotonia de tudo.


A monotonia de tudo não é, porém, senão a monotonia de mim.

Cada dia é o dia que é, e nunca houve outro igual no mundo.

O meu desejo é fugir.

Fugir ao que conheço, fugir ao que é meu, fugir ao que amo.

Desejo partir - não para as Índias impossíveis, ou para as grandes ilhas ao Sul de tudo, mas para o lugar qualquer - aldeia ou ermo - que tenha em si o não ser este lugar.

Quero não ver mais estes rostos, estes hábitos e estes dias.

Quero repousar.

Quero sentir o sono chegar como vida, e não como repouso.

Uma cabana à beira-mar, uma caverna, até, no socalco rugoso de uma serra, me pode dar isto. Infelizmente, só a minha vontade mo não pode dar.

A escravatura é a lei da vida, e não há outra lei, porque esta tem de cumprir-se, sem revolta possível nem refúgio que achar.

Uns nascem escravos, outros tornam-se escravos, e a outros a escravidão é dada.

O amor cobarde que todos temos à liberdade - que, se a tivéssemos, estranharíamos, por nova, repudiando-a - é o verdadeiro sinal do peso da nossa escravidão.

Eu mesmo, que acabo de dizer que desejaria a cabana ou caverna onde estivesse livre da monotonia de tudo, que é a de mim, ousaria eu partir para essa cabana ou caverna, sabendo, por conhecimento, que, pois que a monotonia é de mim, a haveria sempre de ter comigo?

Eu mesmo, que sufoco onde estou e porque estou, onde respiraria melhor, se a doença é dos meus pulmões e não das coisas que me cercam?

Eu mesmo, que anseio alto pelo sol puro e os campos livres, pelo mar visível e o horizonte inteiro, quem me diz que não estranharia a cama, ou a comida, ou não ter que descer os oito lanços de escada até à rua, ou não entrar na tabacaria da esquina, ou não trocar os bons-dias com o barbeiro ocioso?

Tudo que nos cerca se torna parte de nós, se nos infiltra na sensação da carne e da vida, e, nos liga subtilmente ao que está perto, enleando-nos num leito leve de morte lenta, onde baloiçamos ao vento.

Tudo é nós, e nós somos tudo -, mas de que serve isto, se tudo é nada?

Um raio de sol, uma nuvem que a sombra súbita diz que passa, uma brisa que se ergue, o silêncio que se segue quando ela cessa, um rosto ou outro, algumas vozes, o riso casual entre elas que falam, e depois a noite onde emergem sem sentido os hieróglifos quebrados das estrelas.

[O Livro do Desassossego_Bernardo Soares]

Monday, May 24, 2010

eu sou assim


eu sou assim...é um desafio do J, e que não ia dizer que não.pois aqui vai...


eu sou assim...

inconstante...

só estou bem onde não estou...

imprevisível...

uns dias sim outros dias não.
inquieta...

ando sempre a mil..até o coração!


insegura...

gosto pouco de mim...a culpa é quase sempre minha!

impaciente...
espero mas desespero!

indecisa...

penso sempre e agora?

inflamável...
o meu stress torna me uma bomba relógio!

impulsiva...

tenho mau feitio e às vezes não penso...digo.

intensa...

sempre...

inigualavelmente...

estranha!


eu sou a cera que se derrete
nesta mente agitada
cúmplice numa ousada caminhada
que arde sempre até ao fim.

Saturday, May 22, 2010


este fim de semana espero que
o cansaço vença até as ondas,
e então o azul do mar fique mais tranquilo.








não há nada como um mergulho no mar!

mesmo que esta esteja gelada...

Thursday, May 20, 2010

quem és tu???


Sou um homem, sou um bicho, sou uma mulher
Sou as mesas e as cadeiras desse cabaré
Sou o seu amor profundo, sou o seu lugar no mundo
Sou a febre que lhe queima mas você não deixa
Sou a sua voz que grita mas você não aceita
O ouvido que lhe escuta quando as vozes se ocultam
Nos bares, nas camas, nos lares, na lama
Sou o novo, sou o antigo, sou o que não tem tempo
O que sempre esteve vivo, mas nem sempre atento
O que nunca lhe fez falta, o que lhe atormenta e mata
Sou o certo, sou o errado, sou o que divide
O que não tem duas partes, na verdade existe
Oferece a outra face, mas não esquece o que lhe fazem

[Ney Matogrosso]

Friday, May 14, 2010

Crónica de muito amor_António Lobo Antunes

Na minha família não se fala de mariquices mas, de vez em quando, há gestos destes, de ternura escondida, como quem não quer a coisa

5:51 Quarta-feira, 31 de Mar de 2010
O João trouxe-me um Santo António pequenino de Pádua: comoveu-me que se tivesse lembrado de mim. Na minha família não se fala de mariquices mas, de vez em quando, há gestos destes, de ternura escondida, como quem não quer a coisa. Deve-se gostar das pessoas sem lhes mostrar. Deve-se gostar das pessoas sem lhes mostrar? Pelo menos entre nós é assim: não há elogios, não há censuras, raramente há perguntas. Para quê? Há um estar ali que é já tanto. Diz-se sem as palavras e percebe-se que se diz e o que se diz porque o clima, não sei explicar de outra maneira, se torna diferente. Não falamos do que cada um faz: a gente sabe. Do que cada um sente: a gente sabe. Não se fala do sofrimento, não se fala da alegria: a gente conhece. É melhor desta forma. Uma única ocasião o meu pai fez-me uma confidência, sacudiu-a logo com a mão
- Chega de pieguices
e alegrou-me que se penitenciasse por transgredir as regras. Não há efusões, não há gestos e, no entanto, as efusões e os gestos estão lá. Quem souber ver que veja, quem não souber é porque não pertence à tribo. Não há lamentos: porque é que hei-de lamentar a minha sorte, interrogava o grego. Não há censuras, não há críticas, salvo em ocasiões muito, mas mesmo muito, especiais. O Zé Cardoso Pires percebia isto
- Vocês estão muito ligados
disse-me um dia, e mudou logo de paleio.
- Nenhum escritor gosta de falar do que escreve
afirmava ele. E, realmente, nunca falámos um ao outro do que escrevíamos. Quase todos os dias conversávamos mas não se tocava nesse assunto. Quando muito
- Estás a trabalhar?
e acabou-se. Ou
- Não estou a trabalhar
e acabou-se. Uma tarde telefonou-me
- É para te dar os parabéns porque ganhei um prémio
desviou logo o assunto e isto é o cúmulo da amizade. Foram os parabéns que, até hoje, mais prazer me deram. Até as nossas dedicatórias mútuas eram secas: Para o António do Zé, Para o Zé do António e um rectângulo à volta, a cercar as palavras, a fechá-las lá dentro. O rectângulo, claro, era o mais importante, e o que estava naqueles quatro riscos, meu Deus. Maior elogio mútuo
- Belo livro
maior crítica mútua: silêncio dentro de um soslaio breve. Não, maior elogio:
- Posso ser amigo de um médico, de um engenheiro, de um pedreiro. Para ser amigo de um artista tenho que admirá-lo.
Passeávamos de braço dado na rua. Com o meu irmão Pedro, por exemplo, darmos o braço é fazermos chichi juntos, no escuro, junto à cascata do jardim dos meus pais, com um comentário sobre o jacto respectivo. Depois sacudirmos os pingos ao mesmo tempo porque a pila não sabe fungar. Então abotoamo-nos e cada um vai para o seu lado, em silêncio. Deve ser difícil as mulheres entenderem isto mas, para os homens, fazer chichi lado a lado, ao ar livre, é sinal de amizade, a olharmos para baixo, cheios de duplos queixos. Tanto che che che nesta frase. Fazer chichi na rua é um dos meus prazeres, devo ter sido cachorro noutra encarnação. Detesto urinóis, retretes: haverá alguma coisa que se compare à exaltação de mijar contra uma parede? Às vezes, a seguir ao jantar, digo ao Pedro
- Já mijaste?
sabendo que ele estava à minha espera para essa celebração da cumplicidade. Nem que sejam três gotas faz-se um esforço. Vemos as árvores, vemos o muro, não nos vemos um ao outro mas estamos ali. Nem quero pensar na ideia de fazer chichi sozinho. No fim pergunta-se
- Como é que estás?
sabendo que o parceiro se cala. Depois cada um no seu carro, sem mais palavras. Um atrás do outro e, a certa altura, separamo-nos, com um sentimentozito de despedida que custa. Quer dizer não custa assim tanto, custa um bocadinho e passa. Eu vou fazer redacções, ele vai fazer não sei o quê: pouco importa. Importa que durante uns momentos estivemos juntos. Agora interrompi esta crónica porque fui lá dentro espreitar o Santo António antes de lhe pôr o ponto final.

Que pena um ponto final ser tão pequenino.

Wednesday, May 12, 2010


da minha boca não sai a palavra,

que roda e roda na garganta,
já não estou expectante,


mas sim pronta a tragá-la.

só os ouvidos tolos
esperam a palavra sonhada.

mas se me apetecer,

e a palavra continuar a existir,
posso com imaginação
torna la um desenho.


só depois verbalizo.

mais tarde,


ouço a, toco e engulo a,
como louca...
é a palavra de dentro,


da alma, do coração.

chama se
grito,


sincero.
nunca mentira!

Monday, May 10, 2010

Boa semana!



Se cuidas de mim, eu cuido de ti também. [Tiago Bettencourt ]

uma frase simples que se pode aplicar à família, ao planeta, ao vizinho do lado, ao animal de estimação…e tantas outras coisas.

esta semana, dedica te a cuidar de algo ou alguém especial!

fica o convite...

boa semana!

Thursday, May 06, 2010

Monday, May 03, 2010

Só há pedófilos entre os padres?_Inês Pedrosa



Dos políticos pedófilos é proibido falar. Bendita prescrição.

Há uma coisa que eu nunca poderei perdoar aos políticos: é deixarem sistematicamente sem argumentos a minha esperança", Miguel Torga, "Diário", 14 de Novembro de 1985.
De repente, parece que o crime de pedofilia é um exclusivo dos sacerdotes da Igreja Católica. Não haverá pedófilos em nenhuma outra religião? E que dizer das religiões - como o islamismo, em diversos países do Médio Oriente - que não só pactuam como aprovam o casamento forçado de meninas com velhos? Ou o crime de pedofilia, desde que consignado pela lei, deixa de ser crime?
Critica-se o Vaticano por não fazer um acto de contrição suficientemente claro quanto aos crimes dos seus membros. Não entendo porque teria a Igreja de pedir desculpa por crimes que nada têm que ver com a instituição enquanto tal. A religião católica condena a pedofilia, como aliás todos os crimes contra as pessoas, sem olhar a credos ou raças. Nem todas as religiões defendem os direitos humanos em absoluto - mas a Igreja Católica do século XXI defende-os. A história é um longo estendal de crimes imperdoáveis - se nos fixarmos nela, não encontraremos um só período, até ao século XX, em que as pessoas tenham sido consideradas todas igualmente dignas. Ainda hoje, em largas partes do mundo, as mulheres, as crianças ou os pertencentes a etnias diferentes da maioritária são tratados como lixo. A famosa Grécia Antiga era um território de senhores e escravos e uma civilização que oprimia barbaramente as mulheres. Sempre que se fala de pedofilia surgem conversas tão eruditas quanto insidiosas sobre as relações íntimas de aprendizagem entre homens e rapazinhos na Grécia Antiga - como se as iluminações mentais de uma plêiade de filósofos pudessem justificar o injustificável. O brilhantismo de Heidegger não chega para perdoar o nazismo - antes pelo contrário: é importante pensarmos como pode uma cultura subir tão alto e descer tão baixo em simultâneo. A cultura alemã, como a civilização grega, são excelentes campos de análise sociológica, política e filosófica. Como puderam os espíritos criadores da ideia democrática de polis considerar a cidadania como um privilégio dos supostamente mais aptos? De que modos não vigora ainda hoje este entendimento do mundo?
A mensagem de Cristo é precisamente a oposta - e se é verdade que a Igreja Católica tem um modo hierárquico e ostentatório de ser e de viver que em nada se coaduna com o modo de viver de Cristo ou a palavra dos Evangelhos, não é menos verdade que é ela quem hoje está, muitas vezes só, junto dos desvalidos. Se assumisse a culpa pelos crimes de pedofilia de um conjunto dos seus elementos, a Igreja estaria a sujar a imagem desses seus outros milhares de padres que se entregam a tornar felizes os que nada têm.
Entretanto o julgamento da pedofilia na Casa Pia eterniza-se. Esta semana surgiu a notícia de que uma das vítimas, transformada em mera testemunha porque os abusos de que foi alvo já prescreveram, ameaçou fazer justiça pelas suas próprias mãos contra os arguidos. Notícia sem alarde - talvez porque o presumível autor dos crimes de pedofilia já prescritos é, segundo o "Diário de Notícias", uma "figura do Estado", cujo nome o Tribunal impede que se revele. Não entendo porque razão hão-de prescrever estes crimes - nem, aliás, quaisquer outros. A pedofilia é um crime que se exerce sobre crianças, ou seja, seres frágeis e totalmente desprovidos de poder. É um crime de que a vítima muitas vezes acaba por se sentir cúmplice, e que afecta irreversivelmente a sua identidade e a sua vida. A prescrição, em particular neste crime, representa conivência da lei com o criminoso. A mensagem é a de que, passado um tempo, não há sequelas nem razão para se falar de crime. A revolta desta vítima remetida à brutalidade do papel de testemunha é a prova de que assim não é - e o silêncio obrigatório em torno da "figura do Estado" demonstra quem e o quê está a proteger a Lei: o poder e os poderosos. As ameaças da vítima foram relatadas ao procurador pelo próprio psiquiatra, que teve a coragem de enfrentar o paciente e avisá-lo de que o iria fazer (condição necessária para a quebra do sigilo profissional). Se todos os psiquiatras tivessem esta coragem, haveria certamente menos crimes. Mas enquanto se admitir a prescrição deste crime tenebroso, os pedófilos continuarão impunes. E a culpa não é da Igreja - é dos políticos, que fazem leis para proteger, antes de mais, os seus correligionários. Não há pedófilos e pedófilos: todos são criminosos. É mais que tempo de sairmos da Grécia Antiga.

Sunday, May 02, 2010


a todas as mães,
mas em especial à minha
Feliz dia da Mãe!