Wednesday, December 17, 2008

prenda minha


Je suis d'un autre pays que le votre, d'un autre quartier, d'une autre solitude.

Je m'invente aujourd'hui des chemins de traverse.

Je ne suis plus de chez vous, j'attends des mutants.

Biologiquement je m'arrange avec l'idée que je me fais de la biologie: je pisse, j'éjacule, je pleure. Il est de toute première instance que nous faconnions nos idées comme s'il s'agissait d'objets manufacturés.

Je suis pret à vous procurer les moules.

Mais, la solitude.

Les moules sont d'une texture nouvelle, je vous avertis.

Ils ont été coulés demain matin.

Si vous n'avez pas dès ce jour, le sentiment relatif de votre durée,

il est inutile de regarder devant vous car devant c'est derrière, la nuit c'est le jour.

Et la solitude.

Il est de toute première instance que les laveries automatiques, au coin des rues,

soient aussi imperturbables que les feux d'arret ou de voie libre.

Les flics du détersif vous indiqueront la case où il vous sera loisible de laver ce que vous croyez etre votre conscience

et qui n'est qu'une dépendance de l'ordinateur neurophile qui vous sert de cerveau.

Et pourtant la solitude.

Le désespoir est une forme supérieure de la critique.

Pour le moment, nous l'appellerons "bonheur",

les mots que vous employez n'étant plus "les mots" mais une sorte de conduit à travers lequels,

les analphabètes se font bonne conscience.

Mais la solitude.

Le Code civil nous en parlerons plus tard.

Pour le moment,

je voudrais codifier l'incodifiable.

Je voudrais mesurer vos danaides démocraties.

Je voudrais m'insérer dans le vide absolu et devenir le non-dit,

le non-avenu, le non-vierge par manque de lucidité.

La lucidité se tient dans mon froc...






La Solitude Léo Ferré
[Sou de um outro país que não o vosso, de outro quarteirão, de outra solidão. Invento-me hoje em atalhos. Já não faço parte da vossa casa, estou à espera de mutantes. Biologicamente, acomodo-me com a ideia que faço da biologia: mijo, ejaculo, choro. É fundamental que moldemos as nossas ideias como se tratasse de objectos manufacturados. Estou pronto para vos arranjar os moldes.
Mas a solidão...
Os moldes são de uma textura nova, aviso-vos. Foram fundidos amanhã de manhã. Se não tiverem desde esse dia o sentimento relativo da vossa duração, é inútil olhar à vossa frente porque de frente é por trás, a noite é o dia.
E a solidão
É fundamental que as lavandarias automáticas, à esquina das ruas, permaneçam tão imperturbáveis como os sinais vermelhos ou verdes. Os ''policias'' do detergente indicar-vos-ão o compartimento onde vos será permitido lavar o que creis ser a vossa consciência e que não passa de uma dependência do computador neurófilo que vos serve de cérebro.
E, apesar disso a solidão...
O desespero é uma forma superior da crítica. De momento, chamá-la-emos de “felicidade”, as palavras que utilizam já não são “as palavras”, mas uma espécie de canal através do qual, os analfabetos se mantêm de consciência tranquila.
Mas...a solidão...
Do Código civil falaremos mais tarde. De momento, queria codificar o incodificável. Queria medir as vossas democracias impossíveis. Queria inserir-me no vazio absoluto e tornar-me o não dito, o não acontecido, o não virgem por falta de lucidez. A lucidez agarra-se às minhas calças …]
Dsc esta minha a tradução que pode não ser a melhor...

20 comments:

hora tardia said...

comprei um bilhete para o teu país.


.


chego sento e leio. e fico.

e agradeço.


e desejo que este tempo seja meso de natal.


sereno.


beijo.S.

irineu xavier cotrim said...

as velas ardem além do fim.

parabéns pelos textos

Teresa Durães said...

(bolas, não percebo francês)

Maria said...

Grande grande é Léo Ferré.
Vou ficar a ouvi-lo.

Obrigada
Um beijo, Velas

Maria said...

Acho que ainda volto mais logo...
:)))

O Espírito do Tai Chi said...

Lindo!... Lindo!... Lindo!...
Oh que saudades de ouvir esta música... de Léo Ferrer.

Obrigado!...

Bjos,

António Serra

Su said...

merci

jocas maradas.sempre

Matilde Cê said...

Sabes, não li esse livro todo mas comecei a lê-lo. Juro que senti que aquele livro era a minha vida muito mais amplificada e exagerada. Achei bem bonito o que li.

um beijo grande *

Bandida said...

..."Je voudrais m'insérer dans le vide absolu et devenir le non-dit,


le non-avenu, le non-vierge par manque de lucidité.


La lucidité se tient dans mon froc..."

-----
este é o melhor presente, querida velas.

eu sei que também para ti "ele" é "o".


um enorme abraço para ti!

B.

joão said...

La lucidité se tient dans mon froc.

A tradução é optima qdo se agarra o sentido do discurso... esta é a melhor pq foi feita por si.

Léo teria ficado contente.

Mié said...

vim agradecer-te a visita aos meus cantos, e deixas-me


...sem palavras.


amo Léo Ferré...coisas antigas que ficam para sempre :)

um beijo

Teresa Durães said...

ah, agora já entendo :P

e gostei bastante!

Anonymous said...

"No fundo, é isso, a solidão: envolvermo-nos no casulo da nossa alma, fazermo-nos crisálida e aguardarmos a metamorfose, porque ela acaba sempre por chegar..."

A tua tradução está muita boa! foi o que me safou é que em Inglês entendo, Francês, já nem por isso...

O mundo visto de uma forma seca, como se a nossa existência não passasse de um mero acessório...

Boa escolha Vela. :)

Beijinhos

João o Protestante said...

não sei francês, logo não sei dizer até que ponto a tradução está fiel. A verdade é que fiel ou não ao original é um texto de uma sensibilidade extraordinária que toca bem no fundo das fraquesas mais escondidas das pessoas... uma viajem ao "dark side" que mexe com a consciencia.

Curiosamente o meu post novo fala de solidão...de uma maneira menos séria mas fala!
lá te espero!

Lídia said...

... gosto. Bj luminoso.

Conversa Inútil de Roderick said...

Solidão em época natalícia é triste...

pn said...

Por vezes, alguém, (não é, Maria Bandida?), desenterra esta mais que todas pungente solitude do LF...L' A.
Comprei(na Fnac) 2 cd's dele, além do mais com capa belíssima, La vie d'artiste e Paris canaille - são da "The Intense Music" e valem o $inho que custam...

borrowingme said...

queria inserir-me no vazio absoluto e tornar-me o mão dito....


também eu!

bjs velinha

Rui Fartura. said...

queria comentar a foto de 13 de dezembro mas n sei porque n dava, então farei aqui o meu comentário a essa mesma foto e post, gostei muito da conjugação texto/ imagem, principalmente do texto que mostra que nem tudo o que vemos, temos, sonhamos, nos completa num todo, procurando sempre mais e mais, até à exaustão. é assim que se faz a vida, de sentimentos sonhos e realidades prontas a ser descobertas para viver.

bom natal

mfc said...

O Léo Ferré consegue dizer aquilo que há de mais profundo em nós de uma forma compreensível e linda...
Ahhh... e com aquela voz inconfundível!