às vezes durmo um sono profundo, como um sedativo de mim mesma, esperando um grande estrondo para despertar. quem sabe uma trovoada seca, que se ouve parecendo que a própria Natureza explode a sua raiva no céu fazendo os corpos estremecerem na terra. um misto de medo e alívio porque sei que estrondo não vai durar mais do que um instante.as grandes catástrofes são como uma espécie de percalços que a vida me apresenta: começam e terminam numa questão de segundos e soltam sobre mim toda a ira e me lançam ao chão, como se todo o meu mundo precisa se de ser reconstruído.
a vida continua a exigir acção.movimento.não adianta querer que o planeta não gire enquanto não conseguir encontrar o meu caminho.os meus pedaços perdidos como um quebra-cabeças são o meu eu ou que já fui.ao ver que as peças são muitas até posso não saber por onde começar mas sei que o farei.aprendi que não me adianta entregar tudo.
vou continuar a dormir, fechar os olhos com força e criar um novo mundo, onde é permitido colorir a cores, a jogar com a realidade, a lançar perfume, a mostrar a verdade e a razão, a não mascarar o feio e a fazer voar a consciência.e quando o despertador insistir em tocar vou atirá lo o mais longe possível, com a mesma força que gostaria de arremessar alguns dos meus problemas.se calhar já sonhei de mais, a trovoada barulhenta despertou me, parecendo que o sol enfeita, sem ter perdido o poder de aquecer.
talvez seja altura de sair de trás do muro, que protege mas não deixa viver, que esconde, e abrir bem os meus olhos mesmo sabendo que eles a princípio rejeitarão a claridade por não estarem habituados a ela.
Parábola do escorpião e do sapo:
O escorpião queria atravessar o rio, mas tinha medo de se afogar. Pediu que o sapo o levasse.
O sapo respondeu: Eu, não. Você pode ferrar e matar me.
O escorpião discordou: É claro que não! Imagine. Se você morrer, nos afogamos os dois.
O sapo acreditou. Fazia sentido. Então colocou o escorpião nas costas e começou a atravessar o rio. Antes do final, sentiu a ferroada.
Enquanto os dois se afogavam, ainda perguntou: Mas escorpião, porque fizeste isto, mesmo sabendo que ias morrer???
É a minha natureza - respondeu o escorpião, antes de descer para as profundezas.
somos todos escorpiões? ou não?será impossivel lutarmos contra a nossa natureza , contra um padrão que repetimos a vida inteira, mesmo sabendo que não é o correcto ou que não nos vai ajudar em nada? ou uma das coisas boas do ser humano é poder romper esse padrão?