Tuesday, September 30, 2008

esquisitices

estou inteira.
inteira mas feita de água.
caí de dentro de mim. como um copo. entornado, esperando que o vento apareça para me secar.
inteira mas nervosa.
uma água revolta.
revolta em mim. como as ondas a quebrar na areia.debato me.
inteira mas a gritar.
por dentro.grito para que me deixem ser. quero a minha espontaneidade, a fala solta.o direito de ser. livre.
inteira mas retorcida.
a engolir em seco. a verter água pelos olhos. libertando o imenso mar que existe dentro de mim.
inteira mas com saudades de colo.
um gritinho emudecido escondido pela rouquidão.
estou inteira
mas sou uma tonta.

"E se me achar esquisita, respeite também. Até eu fui obrigada a me respeitar."
Clarice Lispector.

Monday, September 29, 2008

Friday, September 26, 2008

os canários são calmos, mas algumas aves podem ser mais agitadas

"A dor é bactéria, cuspo viral, réptil viscoso que faz ninho.Assim que nos entra, nunca mais nos deixará. Mastiguemos ambas as palavras:nunca mais.Invade nos silênciosa.Mistura se com todo o sangue e tripas que há em nós, comanda nos sem se deixar ver.
...Julgamos, muitas vezes, que a dor já lá não ha de estar, confiantes no grande remédio que nos ensinam cura tudo.
O tempo.
E contudo há sempre um dia, um acontecimento, uma conversa, uma situação que observamos, ou esse tal objecto insignificante que reencontramos.
E a serpente morde nos outra vez os tendões."
[Canário_Rodrigo Guedes Carvalho]

Acabei de ler Canário do Rodrigo Guedes Carvalho e não gostei, simplesmente adorei. É um livro de afectos, desejos, ambições e medos, uns exteriorizados, outros escondidos, porque socialmente é melhor parecer do que ser.Várias histórias paralelas e que descobrimos unirem se num só ponto.Histórias que a determinada altura se unem por uma coincidência que se vem a verificar não ser feliz.
Geraldo, um jovem preso que viu a sua vida desmoronar se no dia em que mata o amante da mãe depois de este a ter agredido mais uma vez.Maria Antónia,mulher de um escritor famoso, que se anulou voluntariamente por de um amor desgastado e vazio de afectos, uma familia que considerava imaculada.Camila, filha do escritor, mulher fragil, com um pai ausente e uma mãe mal amada. Impotente perante um filho autista e a dor de um casamento que acabou por ter um marido fraco incapaz de lidar com o desequilíbrio que a doença de Pedro provocou na conjugalidade.Alexandre, escritor famoso e consagrado, como tal egocêntrico e obcecado por ser criativo em cada livro que cria. Toda a sua vida feriu emocionalmente os que o rodeiam anulando as suas identidades e revelando o seu profundo narcisismo. É ele o ponto comum de todo o livro.
Ao longo do livro, vivemos imposições sociais e conflitos emocionais a que não escapamos incólumes, ou por vivermos entre grades de uma cela, ou porque algemas invisiveis nos prendem as mãos.Algemas que herdamos, da familia e da sociedade, e que no fundo, bem lá no fundo até alimentamos com mais ou menos luta numa sociedade, que nos rouba os afectos. Paradoxalmente, os mesmos afectos que todos precisamos, procuramos e resgatamos de quando em vez. Afinal, todos somos também canários…

Wednesday, September 24, 2008

Parabéns Papá e Mamã!

Descalça vai para a fonte

Leonor pela verdura;

Vai fermosa, e não segura.

Leva na cabeça o pote,

O testo nas mãos de prata,

Cinta de fina escarlata,

Sainho de chamelote;

Traz a vasquinha de cote,

Mais branca que a neve pura.

Vai fermosa e não segura.

Descobre a touca a garganta,

Cabelos de ouro entrançado

Fita de cor de encarnado,

Tão linda que o mundo espanta.

Chove nela graça tanta,

Que dá graça à fermosura.

Vai fermosa e não segura

Uma bébé é sempre uma alegria! Fiquei tão feliz!

L,
Meu querido Amigo,
Hoje há uma estrela muito brilhante no Céu que sorri.
Sorri. Solta gargalhadas.Sorri!
Sorri porque vê o seu menino feliz! Muito feliz!
O seu menino muito feliz com menina dele.
E uma Mãe gosta sempre de ver o seu menino feliz!
Eu acredito, Papá!

Saturday, September 20, 2008

Wednesday, September 17, 2008

Será que as coisas podem realmente mudar? Não sei...

núvens negras
chuva miudinha.
o passado,
presente
e futuro.
núvens negras
o horizonte
apenas
núvens negras
olhei para trás.
estou de costas
não para o que fui
mas para o que sou.
é tudo o que tenho.

Saturday, September 13, 2008


eu acho que posso alcançar as nuvens.mas muitas são as vezes em que me deixo queimar pelo sol.cinzas espalhadas pelo chão.


sem asas e sem penas, sou um pássaro no vôo da inocência.

deixo me seduzir pelo espelhos
e ficar: não pela verdade da imagem
mas pelos voos razantes que me fazem sentir viva.

entro.pela janela.

a lua assombra

e faz me rir.

rir e rir.



Amanhã será outro dia... alegre!








"o meu único desejo é conversar.

conversar com alguém que ainda sabe sorrir."

José Manuel Saraiva

Wednesday, September 10, 2008

eu sei

Eu sei
Eu sei que vivo e
porque sei que vivo
acredito.

Eu sei
Eu sei que tenho medo do escuro e
porque sei que tenho medo do escuro
apaguei as luzes.

Eu sei

Eu sei que existem farsas e
porque sei que existem farsas
luto.

Eu sei
Eu sei que sabia e
porque sei que sabia
não sabia de nada.

Eu sei
Eu sei que vou morrer e
porque sei que vou morrer
desprezo os abismos.


Saturday, September 06, 2008

gostava de ver para lá do que os meus olhos vêem. gostava de sentir a cor das almas.
de ter em mim uma janela com vista para dentro. toda branca e infinita para colorir e montanhas de guaches faber-castell novinhos em folha. pintar uma aguarela leve como o amor.

e o amor?passa o seu fôlego sobre o nada.a este sopro fez do nada o verbo amar.liberte-se o amor.que não fique apenas o verbo.permaneçam os sorrisos livres.o amor não se preocupa com os muros que o abrigam nem com os abanões de quem o fez tremer .sabe-se ventura.surpreende o mundo novo.e prossegue como se fosse o único. sem palavras.





Nao importa o que se ama.
Importa a matéria desse amor.
As sucessivas camadas de vida que se atiram para dentro desse amor. As palavras são um principio - nem sequer o principio. Porque no amor os principios, os meios, os fins são apenas fragmentos de uma historia que continua para la dela, antes e depois do sangue breve de uma vida. Tudo serve a essa obsessão de verdade a que chamamos amor. O sujo, a luz, o espero, o macio, a falha, a persistencia.
[Ines Pedrosa]

Wednesday, September 03, 2008

antes que me gritem, grito eu!

olhos nos olhos.um brilho a queimar a alma.sem palavras.intensos instantes acontecem.tantas e tantas vezes a morder o lábio.como quem faz dele culpado dos meus males. até que dou conta de que tenho desejos.ao sentir o sangue quente na lingua.
sei o que quero.ver a lua transformar se em sol.ardente.à meia noite.e acreditar que tudo é verdade.
dizem me que é loucura sentir o que sinto.
mas não, loucura é nada sentir.


antes que me gritem
vozes
grito eu!

Monday, September 01, 2008

wake me up when september ends


é setembro
a luz é sorriso
e a chuva choro