Friday, January 29, 2010

também eu sou de vidro escurecido

Meus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecido
Encubro a luz que me habita
Não por ser feia ou bonita
Mas por ter assim nascido
Sou de vidro escurecido
Mas por ter assim nascido
Não me atinjam não me toquem
Meus amigos sou de vidro


Sou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestido
E um cinto de escuridão
Mas trago a transparência
Envolvida no que digo
Meus amigos sou de vidro
Por isso não me maltratem
Não me quebrem não me partam
Sou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestido
Mas por assim ter nascido
Não por ser feia ou bonita
Envolvida no que digo
Encubro a luz que me habita

[Sou de vidro_Lidia Jorge]

Wednesday, January 27, 2010

desejo




gostava de me amarrar. viver rodeada de palavras bonitas, de pedidos melosos, de musicas alegres , de versos encantados, de conversas partilhadas e repleto de fantasias.
pronto já disse!

Monday, January 25, 2010

hoje só tenho uma foto do mar



o peito rasga.jorra sangue. eu sinto me sufocar.
nado em mim mesma, preciso de respirar o mar. vou respirar o e no mar.
mas o mar está onde? que eu não consigo ver.
mas o que me traz o mar?paz.
na beira do mar até sol que é lindo consegue ser ainda mais bonito.
na beira do mar o meu mundo sai do balão que o oprime e liberta se.
respirar.preciso de respirar. pisar a areia.molhar a vida.
o mar é uma grande casa .mas não é feita de cimento.
o mar é onde eu respiro.onde me sinto viva.
o mar é onde grito quando não aguento mais os dias.
mas o (a)mar é onde eu não chego.

Friday, January 22, 2010

...
E é preciso ter coragem para ser o que somos
sustentar uma chama no corpo
sem deixar a luz se apagar.

É preciso recomeçar no caminho que vai para dentro,
vencendo o medo imaginado,
assegurar-se no inesperado,
confiando no invisível,
desprezando o perecível na busca de si mesmo.

Ser o capitão da nau no mais terrível vendaval.
Na conquista de um novo mundo
mergulhar bem no fundo
para encontrar nosso ser real.

E rir, pois tudo é brincadeira.
Que cada drama é nosso modo de ver.
A vida só está nos mostrando
aquilo que estamos criando
com o nosso poder crer.

[Estou Aqui_Luiz Antônio A. Gasparetto]

Wednesday, January 20, 2010

coisas de que gosto

uma alegria

esta semana nasceu a Madalena
só tem um quilinho...precisa de crescer um bocadinho mais poder ir para casa com a Mamã e o Papá!
mas já é uma Princesa e vai ser uma grande Mulher!


um filme










um poema


Nunca fui como todos
Nunca tive muitos amigos
Nunca fui favorita
Nunca fui o que meus pais queriam
Nunca tive alguém que amasse
Mas tive somente a mim
A minha absoluta verdade
Meu verdadeiro pensamento
O meu conforto nas horas de sofrimento
não vivo sozinha porque gosto
e sim porque aprendi a ser só...
[Florbela Espanca ]

um sabor


um texto

Os bons e os maus resultados dos nossos ditos e obras vão-se distribuindo, supõe-se que de uma forma bastante uniforme e equilibrada, por todos os dias do futuro, incluindo aqueles, infindáveis em que já não estaremos para poder comprová-lo, para congratular-nos ou pedir perdão, aliás, há quem diga que isso é que é a imortalidade de que tanto se fala.
[Ensaio sobre a cegueira_Saramago]


um livro

uma frase


Mulheres e elefantes nunca esquecem.

[Dorothy Parker]



uma musica






Sunday, January 17, 2010

desabrigo de inverno


nesta noite de inverno, sob as cobertas da minha cama confortável e na penumbra do quarto azul aconchegante, os meus olhos são como vidros que estão embaçados, uma espécie de neblina. regressa o vento e a chuva.mas volta também o vento da consciência enfurecida, trazido pela chuva das lágrimas. uma raiva de sangue. que eu tinha certeza que voltaria. e voltou.
este tempo traz consigo um sorriso retorcido e desprezível.um chama de loucura. um corpo endurecido de carnes, músculos e ossos. inflige a pele viçosa sem perdão. em mim, o seu lado mais assustador. o inverno não é humano, por muito que o tente. nunca o espero, nem finjo que tenho saudades deste tempo para mim assustador. não quero ouvir o vento nos meus ouvidos soprar a minha vida perdida.triturar os meus ouvidos com o seus gritos retorcidos dos galhos a cair. não tenho sede de beber a água da chuva. a existência da chuva nojenta, suja o que há de mais limpo em mim. não necessito de noites frias. por muito que goste de chá quente e de mantas felpudas. não quero a cara tapada por um cachecol. e ter deixado de olhar o céu pela insistência de andar sempre de chapéu de chuva. o inverno descortina como oferta as minhas tristes miudezas. desfia um cordão de desgraças velhas. tudo o que eu evito, ou prefiro não saber, ele manda me à cara. a minha alma recebe socos abrindo as portas do que há de mais particular dentro de mim. o eu mais secreto. nestas noites de inverno, quando as árvores dançam lá fora, o pior de mim bate à porta para me visitar.
com tudo isto, sinto um enorme mal-estar. o meu corpo já não se sente em mim mesma. eu e o inverno, definitivamente, não se entendem. aqui estou perante o velho dualismo. algo sobra no meu corpo.o frio invisível, impalpável. estou desconfortável. percebo o ponto de vista do meu corpo. a chuva dá me uma imensa sensação de desamparo, uma necessidade enorme de me fechar em mim. não suporto o inverno.nem aquele em que jazo. o corpo, sente-se fracassar. a minha alma está indeterminada e espessa, perde a consistência da memória e da continuidade. deseja morrer. ou matar o inverno.mas não sabe por onde começar.

Monday, January 11, 2010

um post tão longo mas tão longo que percebo que desistam a meio de o ler!

na 6ª feira, senti que pertencia a um país que ficou mais decente!
em que todos merecemos, pelo menos à partida, o mesmo respeito e temos os mesmos direitos.
a utopia de sermos todos iguais.
no sábado fui ao cinema.
impossível ficar indiferente a um murro no estômago!




"A estrada encontrava-se deserta. Mais abaixo, no pequeno vale, a linha sinuosa de um rio, estagnado e cinzento. Imóvel e de contornos bem precisos. Ao longo da margem, uma amálgama de juncos mortos. Está tudo bem contigo?, perguntou. O rapaz fez que sim com a cabeça. E então puseram-se os dois a caminhar no asfalto sob a luz metálica, cinzento-azulada, a arrastar os pés na cinza, e cada qual era o mundo inteiro do outro."[A Estrada– Cormac McCarthy]

no Domingo à noite li esta crónica na Noticias Sábado e gostei.
fez me rir.
apenas um comentário ...eu tenho 35 anos mas gosto de homens mais velhos,
sei lá !


O amor e as barragens
DIZEM QUE os rapazes novos gostam de mulheres maduras. E depois sabemos que os homens mais velhos se tomam de amores por raparigas mais novas. Percebi por fim por que há tantas trintonas solteiras…
Eu vejo muito encanto nos 30 – porque as mulheres crescem, lembram nostalgicamente a adolescência e algumas decidem voltar a ela… Outras, talvez pela proximidade dos 40, começam a coleccionar receitas e a descobrir que podem fazer camisolas ou almofadas.
Os homens aos 30 voltam a debruçar-se sobre o umbigo: é a idade da barriga e do ginásio. Traem, são traídos, separam-se, bebem cerveja e começam a gostar mais de vinho. Os homens aos 30 ficam mais tristes, as mulheres mais assanhadas. Deve ser também por isso que não coincidem.
As mulheres querem saber que idade tem o novo namorado da amiga. E se ela diz «31» tendo ela 32, é uma desilusão. Vidas normais sem chama. Nós queremos é que uma margem grossa entre os dois seja discutida ao jantar e que se façam palpites à medida que a garrafa avança: quanto tempo vai durar a relação? Com quem é que ele vai traí-la, como é que ela o vai caçar?...
Os homens talvez não tenham esta maledicência tão imediata. Os homens também querem saber a idade, mas sobretudo se é loira ou das outras (…) e se tem curvas. Já agora, o que é que faz. Porque o poder ou o dinheiro dela podem trazer problemas à camaradagem dos fins-de-semana. A autonomia de uma mulher põe em perigo a animação dos machos.
Nunca me lembro de alguma amiga ter perguntado o que fazia o «namorado» de uma de nós. Querem ver que as mulheres são mesmo românticas?
Eu, se ficasse solteira agora, não sabia muito bem para onde deveria olhar. Porque os mais novos de pele boa sabem menos e dá trabalho explicar-lhes tudo. Por outro lado, têm aquele ar fresco e os dentes brancos e dormem como se não houvesse amanhã. Eu tive alguns namorados que acordavam com um sorriso lindo que fazia esquecer algumas coisas, mas fora de casa podia ser constrangedor. Outros namorados tive que nunca acordaram. Há gente que dorme a vida toda…
Agora que reflicto sobre isto, penso que nunca experimentei devidamente a bancada sénior. Os tipos mais velhos podem ser aborrecidos com as desculpas dos filhos e do trabalho, não percebendo que enquanto estiverem de costas voltadas para a vida nenhuma desculpa os vai satisfazer. Eu acho que todos nós inventamos muitas razões para não nos divertirmos. Temos medo de pagar um preço alto pela diversão fora de tempo. (Como se houvesse idade ou altura para sermos felizes.)
Será que uma octogenária pode dizer que o marido – octogenário também – é imaturo? E o marido dirá que «ela nunca mais aprende»? Porque isto são coisas que dizemos a vida toda e quando estamos perto do fim ainda nos queixamos um do outro? Ainda nos acusamos mutuamente? Ainda nos agredimos com as nossas diferenças?
Não é preciso ir tão longe nas agendas dos dias futuros. A minha amiga de trinta-e-tais dirá que o seu namorado sexagenário é imaturo? E ele alguma vez se queixará de que ela é «chata»? As diferenças, ou pelos menos as acusações, diluem-se com o tempo? É que senão guardo-me para o amor mais tarde…
Sabem, hoje no táxi falava com o motorista sobre as barragens, o tempo e a agricultura. E eu disse ao bom homem que os nossos agricultores arriscam pouco. Ficam de braços cruzados a ver a intempérie levar-lhes o futuro e trazer-lhes os queixumes e a dor. Desconfio que não é só coisa dos agricultores. Desconfio que somos todos assim e no amor também. Ficamos de braços cruzados a assistir à batalha campal da diferença de géneros, arriscando pouco, fazendo pouco contra a ditadura do calendário.
Aceitamos a imaturidade dos homens, eles aceitam-nos a histeria desnecessária e ninguém se mexe muito do sofá.
Excepção para as trintonas, claro, as tais que estão sozinhas e que gostam do rebuliço. A revolução será delas.
Oh God, make me good, but not yet!

e a semana chegou...


dedicada a analisar projectos individuais de Internacionalização de PMES ao programa de Incentivos QREN-deadline 15.01. pelo meio umas reuniões chatas e outras complicadissimas. responder a uns 150 emails diários (alguns com perguntas tão estupidas....).e sonhar com o próximo fim de semana!

amigos [virtuais] de quem gosto muito.

o meu texto de dia 7 é muito sentido, não foi nem é uma brincadeira, são os meus sentimentos.

por isso não posso deixar de partilhar 3 mensagens que me emocionaram 3 amigos.virtuais ou não...não sei.sei que os sinto respirar.



''Olá Velita.
Estas tuas palavras são para ouvir em silêncio. Assim, retirei todas as canções.
A que acompanha o teu blogue e as que me ocupam o pensamento a cada momento.
Desde cedo tivemos as nossas conversas e desde sempre aprendemos a respeitarmos o espaço um do outro. E, vê lá bem, nem nos conhecemos.
Eu posso bem ser o jovem assassino que toca órgão e tu um doido japonês. Mas, as palavras, essas, sempre nos ligaram.
Tu sabes que eu gosto dessa forma crua, como encaras a tua realidade. E eu sei que tu gostas da forma emocional como eu encaro a minha.
Sabes, são assim os nossos dias de solidão. Ainda hoje coloquei uma foto e falei sobre isso mesmo.
Mas o nosso país, o nosso mundo, precisa(m)de vozes como a tua, por isso nem penses em rebentar.
beijo.''

''Não te sei comentar, hoje.
Mas convido-te a beber um copo de um bom vinho tinto. Sei que gostas. Marca na tua agenda, sem direito a 'uma nega'...Beijinho
No sábado, dia 9, vou jantar à Taverna e ouvir a Ana Lains - canta fado. Queres vir?
Tens, em alternativa, o dia 15 - sexta feira - vou lá jantar, e a seguir ouvir a Real Companhia.
Num dia ou noutro acho que podias vir. Sinto que não estás bem e quero muito beber um copo de tinto contigo.
Se preferires noutro sítio calmo, ou mais calmo, diz.
Deixo-te um abraço, mas responde-me, please!
''

''A vida é redigida por nós, somos nós que a direccionamos! As escolhas são nossas independentemente de serem as melhores ou as piores. Mas temos de arriscar, temos de adoptar caminhos que na altura nos parecem ser os melhores, independentemente de mais tarde se virem a revelar errados. Viver é fazer escolhas, é tirar partido das oportunidades que nos surgem, sejam elas eternas ou momentâneas… é viver, não se deixando morrer, dia após dia, aproveitando e saboreando todos os pequenos e maravilhosos momentos que nos vão despontando, contrariando assim aqueles que nos atiram abaixo.
Não compreendo como podes tratar esse pensamento com uma paixão, quando para mim se trata de uma fraqueza, de um desespero… por vezes tentar compreender o que não tem compreensão, só nos faz afundar mais. Por isso não tenhas medo de falar, pois falar faz bem, ajuda a “limpar” a alma… fala para quem te escuta, não só para quem te ouve. Pois quem te escutar ajudar-te-á, sem pedir explicações, sem te julgar… simplesmente te dará o seu apoio, te dará o ombro para chorares e se tu o permitires te fará rir, te fará ter prazer e farás cara de espanto quando perceberes que não estas na terra só para descansar, mas sim para viver.
E viver não é sobreviver! Pois o pouco que tens representa tudo e não nada como fazes questão de afirmar, pois é esse pouco, que tens de amar e te entregar de paixão. Esse pouco és tu, e se tu acreditares em ti, tudo o que dizes não ter e te representa tanto, despertará de ti que por alguma razão, que não sei qual, um dia adormeceu.
Puro conteúdo que já se encontra dentro de ti, tu é que não acreditas nele. Talvez por isso não o gozes, nem nada seja consumado.
Enganas-te quando dizes que ninguém te vê e ninguém te escuta. Mostra-te e deixa-te ouvir!
Não necessitas de deixar de ser uma menina pequenina, mas sê-o com jeito de mulher e de coração enorme que eu tenho a certeza que o és.
Nunca desistas!''
e ainda que nunca vos tenha visto, queria dizer...
gosto de ti Francisco
gosto de ti Maria
gosto de ti Jorge
[peço dsc por publicar sem a vossa autorização]

Thursday, January 07, 2010

sim, onde fico?onde fica Portugal?

penso na vida, e na falta de vida.
vivo não deixando de morrer aos poucos todos os dias.
ultimamente a vontade de desaparecer por completo tem me parecido sublime.
acho que é a primeira vez que escrevo sobre esta atracção.talvez porque tenha vergonha de tal afeição.
será algum dia possivel esquecer esta velha paixão?
se falasse menos e compreendesse mais...
ter prazer...fazer cara de espanto...
quanto na terra apenas tento descansar.
mas o tudo que tenho, parece que não representa nada
e tudo que se não tenho, às vezes representa tanto.
puro conteúdo é consideração.
e não gozo.
mas enquanto nenhum facto é consumado,
escrevo sobre essa minha solidão.
eu sou apenas o que ninguém vê.
o que ninguém escuta.
sou uma menina pequenina.


Na confusão do mundo, um rapaz sobe a rua. O Interior é igual em toda a parte. Mas hoje vai mudar. Ele traz um segredo terrível no bolso do kispo. Faz calor na província dos suicidas. Dá vontade de rir: uma cidade em que até o coveiro se mata… São estatísticas, tudo em números. Na Internet, há sexo e doidos japoneses e americanos para conversar em directo. No campo, granadas e ervas venenosas. No prédio, um jovem assassino toca órgão. O space-shuttle leva cortiça do Alentejo para o Espaço. O Bispo viu o maior massacre da guerra de África e calou-se. Mas hoje vai responder. Os factos verdadeiros são os piores. O amor do rapaz rebentou. Que responsabilidades temos quando nada fizemos? Em que fado parámos, onde fica Portugal.[Rui Cardoso Martins_E se Eu Gostasse Muito de Morrer]

Tuesday, January 05, 2010

lixo e girassois

hoje andei ao lixo.
procurei algo que ainda pudesse aproveitar,
destrui com uma força voraz os sacos,
forla essa que só os esfomeados conhecem.
exatamente como eu:
mendiga.
faminta.
mexer no lixo,
fez me rasgar lembranças,
aproveitar algumas palavras e silêncios,
apagar erros
e
encontrar algumas verdades.
hoje andei ao lixo
em busca de migalhas
que talvez
me dêem uma porção de esperança.

i can't sleep, it's very heavy ... i can't sleep and i can't believe ... please, take the weight off my shoulders!

Sunday, January 03, 2010

manias de Vela!


eu sou a cera que se derrete
nesta mente agitada
cúmplice numa ousada caminhada
que arde sempre até ao fim.

a Teresa quer que exponha em público, 5 das minhas manias. desafio dificil este para quem marada como eu! só 5....ok!escrevo algumas particularidades confessáveis.

gostar de quem não gosta de mim;


só tenho molas da roupa de 2 cores e sempre que tenho que estender roupa para secar nunca coloco molas de cor diferentes na mesma peça de roupa;


ouvir musica deitada no meu soalho de madeira;


ler livros/revistas/jornais compulsivamente, ver sempre o telejornal das 20h na SIC e o jornal das 21h na SIC Noticias com o Mario Crespo;

adorar vinho tinto.



e vocês têm manias?

Friday, January 01, 2010

01.01.2010




Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)


Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.


Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

[Carlos Drummond de Andrade]