Tuesday, January 29, 2008

sentir outras cores

Desço as escadas ao ritmo frenético do costume, porém dali em diante não serei mais a mesma.
O meu olhar passa por tantos azuis, a procurar, não só os erros, mas sim o sorriso que se vai perdendo aos poucos,durante tanto tempo,nas manhãs frias ou quentes.Um dia após o outro, e eu não vejo nada para além dos azuis que vestem um emaranhado de pessoas.É tempo de ver as outras cores, porque elas existem ...Olho, não, melhor vejo o branco, a cal, a alma! Tenho que despertar!Mais um vez...Disperso o sentimento de indiferença,que se me tem colado ao corpo por entre tantos outros sentimentos e revivo sensações, como um despertar, recriando os melodias perdidas...
As escadas, e aquele passo rápido, displicente , é agora, deliberado de forma a traçar o meu caminho,propositadamente para ouvir, sentir e perceber.Inebriar sensações e emoções até então, contidas , e ir sentindo lentamente o êxtase de aprender a despir somente com o olhar.
para ti meu Amigo Dourado.

Sunday, January 27, 2008

mentira

Uma das causas de separação nas relações humanas é a mentira. É uma das maiores causas de problemas. Mas muitas vezes não se olha para a total extensão deste problema. A mentira é egoísta. Quem mente entra numa espiral complicada e perigosa. Há situações que levam a mentir. Demasiadas situações. O querer acreditar naquilo que se quer ver mesmo que não seja a realidade.Faz ver coisas que os olhos jamais verão.O embaraço ou a vergonha leva a mentir para ocultar uma anterior mentira. Depois, a vida complica-se hora a hora. O medo de ser descoberto, a angustia de esconder algo a alguém , o constante sobressalto e o medir as palavras faz com que, quem mente, viva numa constante angustia.Uma mentira, por mais inocente que pareça, é sempre perigosa. Retrata uma realidade falsa.O filme Expiação é um bom retrato de como uma mentira destroi mais que a vida de a quem se mente mas também a vida de quem mente.
A mentira só dura enquanto a verdade não chega...


Verdade, mentira, certeza, incerteza...
Aquele cego ali na estrada também conhece estas palavras.
Estou sentado num degrau alto e tenho as mãos apertadas
Sobre o mais alto dos joelhos cruzados.
Bem: verdade, mentira, certeza, incerteza o que são?
O cego pára na estrada,
Desliguei as mãos de cima do joelho
Verdade mentira, certeza, incerteza são as mesmas?
Qualquer cousa mudou numa parte da realidade -os meus joelhos e as minhas mãos.
Qual é a ciência que tem conhecimento para isto?
O cego continua o seu caminhoe eu não faço mais gestos.
Já não é a mesma hora, nem a mesma gente, nem nada igual.
Ser real é isto.
[Alberto Caeiro]

Friday, January 25, 2008

sapos

Os sapos
gordinhos e pegajosos.
os sapos não olham,
mas estão lá fora...alertas!
Os sapos paralisam me.
Não penso, não respiro
e meu coração bate freneticamente.
Eu não sinto nada pelo sapos
porque eles não me deixam sentir.
A sua existência não me deixa existir.
Não é por ser feio,
o bonito e o feio depende de quem vê...
Os sapos são grandes, gordos e pulam!

Os sapos, num salto
crescem
procurando a manhã
quem sabe em honra à lua que se vai deitar.
Nas águas mansas, parecendo prata
como uma vela acesa,
conduzem se a um ar de paz e guerra...
Croc... croc... croc
E lá caminham eles
apressadamente para viver emoções...
para depois...
lutar com uns e outros...
por coisas banais , sem interesse.

Neste mundo existem
sapos aos montes!

Wednesday, January 23, 2008

sinto me assim

[El Vendedor de Alcatraces-Diego Rivera]

Sunday, January 20, 2008

não sei

não sei.o meu coração não faz verso.eu não rimo.desejo de expressao.não sei.uma palavra.fazer as letras fluírem.fazer voar a imaginação.eu queria voar.olhar pela janela e pensar o que quero da vida. o que quero. o que. eu quero. o que não quero. sonhos. os que tenho para me proteger da realidade. a realidade...uma dor que tem que ser vivida. quem sabe se um dia o dia dá certo. ou não. não sei.o que sei é que me quebro, me decepciono, não voou. naquele mundo em que as pessoas passam.não sei rimar.ninguém me ensinou.falta me sorte. o meu trevo ainda não desabrochou.não sei. fingir sentimentos.sei que sinto.muito.uma mente cheia de ideias diferentes e criativas. a vida e suas faces.os seus tombos também. feridas a cicatrizar...não sei.talvez eu não rime com a vida.não sei como traduzir este estado de espírito em que vivo.o tudo será sempre nada para o tanto que poderia ser.o mais será sempre menos para o tanto que deveria ser.não sei mas achava piada saber.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!

Ninguém me peça definições!


Ninguém me diga: "vem por aqui"!


A minha vida é um vendaval que se soltou.


É uma onda que se alevantou.


É um átomo a mais que se animou...


Não sei por onde vou,


Não sei para onde vou -


Sei que não vou por aí!
José Régio

Thursday, January 17, 2008

horas

Um dia tem 24 horas. Uma hora tem 60 minutos. Cada minuto tem 60 segundos. Meia hora são 30 minutos. Um quarto de hora são 15 minutos. Três quartos de horas são 45 minutos. Uma hora e meia são 90 minutos.




O relógio não conta nas horas felizes.
[Vyâsa]

Tuesday, January 15, 2008

E vão 2!!!

E vão 2 anos que moro sozinha com o Simão...o meu cão...e vivemos lindamente...ou não tivessemos ambos mau feitio!
Cresci... soltei amarras e aprendi a estar comigo.Nem todos os dias são fáceis-não é por aí que os meus dias diferem daqueles que partilham a vida com alguém- e para além de nunca me sentir sozinha acompanhada em casa.Parece que tenho tempo para tudo. No entanto, não me iludo nem tento iludir, por vezes é estranho não ouvir outra voz em minha casa para além da minha, outros dias jantar apenas com a companhia do telejornal da SIC não é o que mais me apetecia, mas também pode ser agradável ter todo o tempo do mundo para ler, ouvir música ou ver na televisão ou no dvd só o que quero. Como repararam ...os meus dias têm dias...tais como os de toda a gente.Uns muito bons, outros nim e outros muito maus.




Fazer um balanço dos 2 anos não sei se terá alguma lógica.Na vida nem tudo são perdas ou ganhos.Estou a gostar muito da experiência, não só por mim mas também porque a minha relação com os outros se tornou mais forte.Como gostei dos 32 anos que vivi com os meus pais e o meu irmão.
Saí de casa porque era tempo .


Tudo tem o seu tempo...e no dia 15 .01.06 era o MeU.


Nem tudo é fácil mas também NuNcA ninguém disse que a vida era fácil...E se vos disserem não acreditem,façam se a ela porque só assim é possível viver um dia de cada vez !

Sunday, January 13, 2008

chove

Água da chuva como lágrimas
Que molham a terra seca
Gotas de dor que inundam o peito
E se evaporam muito antes de tocar o chão
Águas passadas que ainda movem moinhos
Que ensinam os novos caminhos
E que não se vive sozinho
Segredos descem penhascos,
Espelhos, memórias,trechos da vida

Que guardo para mim como se fossem peças importantes.
Ninguém é transparente como água.
Lá fora a chuva caiiiiiiiiii!

Uns dias chove
Noutros dias bate o sol.

Hoje chove muito, muito,
Parece que o mundo se está a lavar.
Chove fininho, chove pouco,
Chove, chove muitinho.

Friday, January 11, 2008

Nós temos cinco sentidos:
são dois pares e meio de asas.
- Como quereis o equilíbrio?


David Mourão-Ferreira

Bom fim de semana!

Tuesday, January 08, 2008

Corto ou não o cabelo??Não, não cortes....



Sabes o que é sedução?


Sei de ti.


Como me seduziste?


Sei de mim.


Encontrei-te quando me procurava.


Sabes o que me fazes com esse teu olhar calmo?


Quando me tocas com a ponta dos dedos?


Sabes o que me fazes quando me sorris?


Corto ou não o cabelo??


Não, não cortes....



Só um beijo hoje. Porque a sedução é feita de afectos e de cores...

Sunday, January 06, 2008

dizer adeus a Luiz Pacheco


Lembras-te Fátima? era o que eu sempre te dizia, não somos nada nas mãos do acaso, e não há mais filosofia do que esta: deixar andar, tanto faz, hoje ou amanhã morremos todos, daqui a cem anos que importância tem isto, quem se lembrará de nós? quem se lembrará de mim? se nem tu já te lembras de mim agora, tu, a quem tanto amei, não te lembras, e foi há tão pouco, foi ontem, parece, que te levantaste e disseste: «Ficamos amigos como dantes»... E dizias: como dantes e era já noutro que pensavas, olhavas-me e nos teus olhos ria-se a traição, o prazer da liberdade, um desafio alegre, uma alegria provocante e desapiedada, ias a meu lado pela última vez e eu era já um estranho para ti, um fantasma a quem se concede, por caridade, uns momentos mais de companhia, algumas palavras vagas distraídas, um pouco de estima, talvez. Reparei: o teu corpo, oh corpo do meu prazer! oh carne virgem sangrando debaixo de mim! oh meu repouso e minha febre! o teu corpo outrora tão cativo e tão submisso, ficara de repente cerimonioso e esquivo, cauteloso, afastado, com um pudor forçado no puxares a saia sobre os joelhos, como se tivesse uma grande vergonha do despudor com que se dera antes...Dizias: como dantes e não era já nisso que pensavas, e não era já para mim que falavas, eu era uma coisa para esquecer, para deitar fora, uma coisa que se abandona caída no chão e se perde sem pena. Dizias: «adeus» e saías da minha vida com um aperto de mão desembaraçado, quase cordial um gesto de boa camarada, como se nada tivesse havido antes, como se não tivéssemos sido tantas vezes na cama, um dentro do outro, um no outro, um-outro diferente, uma coisa sublime: Deus Criador, como os míseros humanos só ali o podem sentir e saber; um Outro que éramos nós ainda, mas tão transtornados, tão virados para fora de nós, tão esquecidos do mundo e de nós, tão eficazes, tão leais, nós boca com boca, corpo a corpo, um sexo torturando um sexo, mordendo-se devorando-se, numa febre de chegar ao fim depressa, ao esquecimento, ao repouso. Disseste: adeus e eu odiei-te logo nesse minuto, como te odeio agora, não por ti ou pelo teu corpo que já me esqueceu noutros que vieram depois, mas porque morri ali naquela palavra, -morri entendes? -, perdi-me numa grande confusão, esqueci-me de ser eu, fiquei roubado do meu passado.Hoje, encontrarias um outro homem; havia de rir-me do teu corpo, da sua entrega ou das suas traições, de tu me dizeres: «Vem» ou «Adeus...», ou «Não quero...». Hoje, saberias quem fizeste com uma só palavra, conhecerias um outro homem, que é obra tua, minha segunda mãe! Hoje, havia de rir ou chorar, era a máscara do momento; mas diria: tanto faz..., tanto me faz... Sabia-o!
Luiz Pacheco-Carta a Fátima

Friday, January 04, 2008

tempo

"A concepção comum de tempo é indicada por intervalos ou períodos de duração".As unidades de tempo mais usuais são o dia, dividido em horas e estas, por sua vez, em minutos e estes em segundos. Os múltiplos do dia são a semana, o mês, o ano e este último pode agrupar-se em décadas, séculos e milênios."


Tempo.
Um dia. dois dias.cem dias.uma vida.
Pedem me tempo.não tenho nenhum.
Não se não tenho ou se não quero ou não sei ter.
Nada a dar.nada.
Dá-me tempo!
Não sei se tenho...


Repito os mesmos caminhos até à exaustão.No entanto, nem sempre percebo que vou cair no mesmo erro, sair novamente desiludida, magoada e com nódoas negras sentimentais.Existem pessoas também, que me dizem, que há outras que gostam de ser magoadas e por isso posicionam se na vida de forma a que isso lhes aconteça. Não sei...sinceramente não sei...
Talvez inocentemente, acredito que cada um de nós não faz aos outros o que não gostam que lhe façam a si...Que a vida é uma roda gigantesca, que volta muitas vezes ao mesmo ponto de partida, sitios comuns e muitas vezes, desnecessariamente, às mesmas estórias. Ou será que não são as mesmas estórias mas sim o modo como nós as vivemos ou escrevemos é que são comuns?É como se fizessemos uma musica, colocassemos na pauta as mesmas notas, sistematicamente, e a melodia fica sempre igual....
Se calhar arrisco sempre na pessoa errada...Mas como sei que é a pessoa errada???Preciso deixar assentar a poeira, o que me pode levar algum tempo eu sei..., e tentar aprender a minimizar a desilusão ou o sofrimento que a saudade provoca.Tentar esquecer...Parece fácil dito assim...mas não é..acreditem...eu tento e sei que serei capaz mais tarde ou mais cedo...Muitas vezes volto ao principio.Juro que será a última vez, que serei mais esperta...sim não disse inteligente propositadamente porque nada tem a ver com inteligência...que mudarei comportamentos...que serei mais egoista...Parece fácil não é??
Não é. Mudar comportamentos e atitudes é complicado, principalmente quando o que contam são os sentimentos. Talvez seja aí o meu erro ou não... Sentir... No fundo são estes que que me fazem levar muitas vezes à mesma situação, que tudo por vezes em mim se repita...se calhar sou eu que me ponho a jeito... Chegará o dia que serei capaz de dar um passo maior, de mudar de sitio, de gestos, de postura...não sei...de estar a jeito que a vida não me magoe.

Dá-me tempo!
Não sei se tenho...
Certamente
O tempo matará as duvidas
resta me então esperar um pouco
ou não…

Amanhã começo a correr.

Tuesday, January 01, 2008

vela


observo o fumo da vela recém apagada
sobe devagar,
desviado apenas por subtis sopros de ar.
o meu pensamento voa por entre recordações
bons e maus momentos,
uns com companhia,
outros nem por isso.
por estas lembranças
hoje uso poderes antigos
de encantamentos esquecidos
há muito e muito tempo.
a vela, parte de um ritual antigo,
tem a força de um apelo:
lembrar me de mim!
Acendo uma nova vela!